segunda-feira, 17 de março de 2014

Métrica

Se
"incorpóreo é o desejo"
qual a medida
do corpo?
talvez o beijo
a distância velada
entre minha boca
e a tua
o compasso e a cadência
entre o meu
e o teu
quadril

o enquadramento distante

perfeitude
que abarca
tudo
como se
imensurável fosse
na imensidão
do peito aberto
e na pequenez
das portas cerradas
coubéssemos
nós

se

aquilo que habita
aqui
fez também
morada cálida
no seu ventre cindido
então
o desejo é a medida
exata
de uns tais versos
singelos e silenciosos
talvez
sonetos sem métrica
bailando por aí

ou somente

mãos acostumadas
à colheita repentina
de frutas maduras, suspiros e suor
possam, espalmadas
determinar a exatidão
do corpo inerte
entregue
sem início, sem fim
aos olhos que o acariciam

terça-feira, 25 de junho de 2013

[re] conhecimento

Eu, guiando nosso sussurro
minha cama é teu casulo.

Os olhos lamberam os seus, ao longe
Palavras banais, assim
segredos debaixo da língua

O beijo, enfim
a orelha mais gostosa do mundo

Subir escadas infinitas,
errar o buraco da fechadura
engolir o afã à ceco
e despir-te devagar

Estourar os cômodos com ecos
Fazer inveja no vizinho chato
(aquele que fecha as janelas muito cedo)
Percorrer um mar de saliva
com a língua no seu corpo enigma

Enrola aqui, nas pernas
o amor-desespero
a convulsão ansiosa
Lambendo meus pêlos
pega, todo mãos
faz-me nascer
voar, borboleta-prodígio

Acordar um pouco mais cedo
Satisfazer o desejo enquanto o sol se atrasa
Ver no espelho o reflexo em brasa
somos agora o filme faísca do dia nascente

Enroscar minha cintura, 
emaranhar o nariz nos meus cabelos
Adormecer
porque "a alma sobe feliz até o olho".

sábado, 26 de novembro de 2011

Elogio à ausência

Seu corpo audaz
Satisfaz
Transluz
A graça de uma menina
Que traz nos lábios
Todos em flor
A sina que me guia
Altiva

O abraço em chamas
A flama
Lambe, lambuza
Chamusca
O peito
E o coração aberto

O deserto
Então
Faz-se mar,
Correnteza


Eu, naufraga
Errante
Rabisco os erros
Apago
As marcas


E submerjo
Na ânsia
Todo desejo
Engole
O desacerto

A falha fenece

Cinjo nos meus
Os seus
Braços
Ausentes
Ateiam fogo


A memória
Sucumbe


Sorrateira
A solidão
Morre
Num orgasmo eterno

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Derretendo-nos

Apertando o quadril
Prescutando o corpo
Sentimos arrepios
Nas torrentes do gozo

Cobrindo o ventre
Vertendo à saliva
Enxuga o sexo
Com a ponta da língua
O mais puro deleite
Pingando proezas

Breve querência
Tremores da ânsia
No lascivo emaranhado
Membros
Apertados
Fulgurante arquejar
Sou sua nascente
Sua fêmea
Jorrando delicias

Derretendo às caricias
Dou-me toda
Às mãos famintas
Ao cego tato
Pupilas cerradas
Cortinas fechadas
Teatro de feras
Fere o pudor
Voluptuoso espetáculo
Clamores e ardor

Do beijo à boca
Do corpo morno
Ao quente e doce
Gosto de desejo
Denso como
A escuridão circundante

Transparece somente
Traços do corpo
Que me agarra
Na cintura
Cinge-me as entranhas
Inunda
Enterra em mim
O mais sublime esquecimento


Imagem do filme "Jornada da alma"

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Sua pele, o pêlo. Meu apelo.


No ato
No tato
Contato
Imediato

De fato
No pêlo
Feito gato
No apelo
Esfregando
Manhoso
A pele
Sedosa
Na minha
Sedenta

Concedo
Concebo
Concordo
Conforto

Contigo






Não falo

No falo
Não falo
De amor


Não namoro
Não caso


Somente ao acaso
Os amantes
Se beijam


No ocaso
O púrpuro solar mancha os lençóis
E os amantes se deitam


O sangue seco
Desvirtua o tecido alvo
Testemunha incorpóreo
Os deleites passados


Somente o sêmen infecundo
Sente-se aliviado
Ao abandonar os prazeres
No ápice do ato


No falo
Não falo de amor
Digo antes que sou
Am-oral
Deixo jorrar
Boca afora
Delícias plenas
Palavras tesas
Poesias grávidas

Pele de Vênus

"Kiss the boot of shiny, shiny leather
Shiny leather in the dark
Tongue of thongs, the belt that does await you
Strike, dear mistress, and cure his heart"

 Venus in furs_Velvet Underground